7 de nov. de 2010

Chaos


Única superfície plana a refletir, como um lago de águas transparentes, eu, cristal d'água, que espero paralelo ao vai e vem da margem, sem ser, sem ser. Superfície plácida, eu, sem sequer uma nesga que me dê um sentido, sem sequer uma onda que me tire do meu silêncio, por muito tempo silente, sem voz, sem voz. Daí então, de repente, caído do céu talvez das patas de uma ave de rapina qualquer ou arremessada por alguém incauto, uma pedra me rompe. Me abre, me viola como a um lacre e eu deixo de ser lisa e plana e calma e passo a ser o caos. A ser incoerência, sem começo, sem final. Mas não demora a minha água a se acalmar; não demora meus anéis de desordem se tornarem um só, e depois eu - única superfíce plana a refletir - não mais reflito, me parto em mil cacos de mim. Vivo. E se me perguntassem - e se eu, como um rio, respondesse, diria algo como - meu caos, meus caros, nada mais é que ter que esperar novamente pela pedra que vai me tirar do meu vazio.