29 de mai. de 2009

Epopéia dramática de uma donzela burlesca

Foto por Lucas Lobo Azevedo, reeditada por mim! :)


Minha vida sendo um romance
Seria daqueles bem mamão-com-açúcar
Daqueles que vendem em banca, sabe?
Eu a mocinha indecisa
Ele o rapaz ansiado
A gente passaria a maior parte separado
Eu vivendo com outros, ele distraindo outras
Se batendo e se desencontrando

Ou pior:

A gente podia se amar, e não conseguir ficar juntos
Sabe-se lá porque!
Eu seria bem sofrida, minha vida sendo um romance
E veria complicação em tudo
Seria tudo muito complicado
- Oh, meu amado! Eu te amo, mas não podemos ficar juntos!
Frescura, frescura, frescura...
Sabe do que mais?
Minha vida sendo um romance
Eu pularia logo pras últimas páginas
Pra me ver ficando pra sempre com você
Sem complicações
Sem desencontros
Sem controvérsias


Mas pensando bem, que graça teria?
Objetividade é pós-moderno demais
Eu sou romântica

- Até demais, Vanny, até demais...

27 de mai. de 2009

Sempre chuva


Eu tô parada em frente à janela há quase meia hora, e não faço idéia de como vim parar aqui. Não que eu esteja bêbada, ou drogada, ou querendo me matar - eu acho que não. Eu só acabei parando aqui do nada, não sei porque, nem ligo porque. Desde pequena sempre gostei de observar à vida das pessoas, ficar paradinha olhando esses desconhecidos tocando suas vidinhas normais, numa mesmice sufocante. E agora, olhando lá pra baixo, esses pontos miúdos, vozes e buzinas, pernas e rodas, eu percebo que é isso que eu tenho feito com a minha vida até agora. Eu sou apenas uma espectadora do filme que protagonizo.
Nunca fui brilhante, nunca tive um futuro promissor, nunca nem mesmo fui notável. Uma filha mediana, uma aluna mediana, uma amante mediana. Nunca fiz nada digno de interesse, nada que despertasse nos olhos das pessoas um brilho de admiração, nada nada. Nasci medíocre e morrerei medíocre. O que é a minha maior frustração, porque preferia ser porra nenhuma a ser quase alguma coisa. Só gosto de extremos.
Minha vida não é lá essas coisas toda, mas também não é digna de pena. Tenho um emprego que paga as minhas contas no fim do mês, um gato siamês alérgico e com tendências suicídas e um pseudo-namorado que acha que trepa como ninguém. Qualquer pessoa normal ficaria satisfeita e continuaria vivendo feliz e contente. Mas pensando bem, nem sei porque estou pensando nisso agora. Vivi relativamente bem comigo mesma todo esse tempo, mesmo negando a minha anormalidade, mas quem é totalmente normal? Não é esse o problema. O problema é que eu me acostumei a não ser ninguém, não ser ninguém é fácil, prático e cômodo. E pensar em mudar agora, nessa altura do campeonato, me dá um baita de um medo. Eu que nunca tive medo de nada, que aprendi a lutar com os meus fantasmas na marra, a cuidar de mim sozinha, agora me vejo tremendo como uma criança assustada, perante a fatos óbvios, verdades que eu nunca quis enxergar. Sou ninguém. Um ninguém só, infeliz e só, mal-amado e só. E devia ter me importado com isso bem antes.
Não para de chover nessa cidade não? Sempre chuva! Mas tá parecendo que chove por mim agora, talvez seja uma chuva reparadora. Eu tô aqui, parada na janela com um copo de coca quente na mão, rosto no vidro e cabeça no que passo, no que passou, paro e penso no que vou fazer daqui pra frente, pra onde vou fugir e se vou parar de fingir viver uma vida que não é inteiramente minha. A gente sempre tem duas ou várias alternativas, eu só peço pra ter a chance de escolher a minha. Posso viver, posso sobreviver, e posso ser.
E poder nunca me pareceu tão assustador.

24 de mai. de 2009

The way I feel Inside

Eu devaneio e reviro os olhinhos desde miúda!

Tem 18 anos que eu vivo em mim, e a cada dia me encontro menos e me conheço mais. Certeza que minha alma é um hotel de beira de estrada: a cada hora um novo hóspede, uma nova história. A Vanny de ontem não é a mesma de hoje, e provavelmente não voltará amanhã. E hoje eu conheci, sem dúvida alguma, a Vanny mais fantástica que habita em mim.
Provavelmente ela tem a mesma altura e a mesma voz que estou acostumada, os mesmos cabelos rebeldes que eu me acabo para conseguir domar. Mas quando olhei no espelho hoje de manhã, notei que essa não era uma Vanny habitual. Talvez pra terceiros, mas porra, eu me conheço a bastante tempo pra saber diferenciar o brilho dos meus olhos. E quando eu olhei pra aquela cara familiar no espelho, eles estavam tão felizes, mas tão felizes, que eu sorri junto com o meu reflexo, e fiquei ali parada, sorrindo como se aquilo tivesse alguma lógica. A gente se acostuma a sorrir pra estranhos e acha maluquice sorri pra si mesmo. Engraçado, não?
A Vanny que acordou comigo hoje é a Vanny mais feliz que eu posso ser. Porque não é uma felicidade instântanea, como quem ganha um presente almejado, ou conquista algo que quer. É uma felicidade nua, inata, totalmente desprovida de razão. E quem disse que pra ser feliz precisa de um motivo? Essa Vanny sabe disso, ela sempre soube. Eu nunca pensei que pudesse vir a ser tão sábia assim.
Ela sorriu quando enfiou o pé na lama e se atrapalhou toda ao abrir o guarda-chuva. Ela sorriu por poder tomar um banho morno e se embolar como um gatinho na colcha de chinil favorita, podendo cochilar com o barulhinho da chuva caindo e batendo no parapeito da janela. Ela gargalhou vendo fotos antigas, revendo antigas Vannys quase esquecidas: Vanny-bebêfofura, Vanny-sapeca, Vanny-mocinha... Personagens de fases diversas de uma vida só.
Mas ela não ficou triste de saudade, nem nostálgica. Ela sabe que o que passou passou, que foi um tempo bom mas que virá melhores, sempre vem. Tudo muda, a é sorte mudar pra melhor.
A Vanny de hoje só pensa no hoje, porque ela sabe que amanhã pode ter que dar lugar a outra parte de mim. E mesmo se ela tivesse ido embora no meio do meu dia já teria mudado um bocado da minha vida.
Essa Vanny é mais lúcida e menos insensata. Mais racional e até mesmo mais inteligente. Essa Vanny não age por impulso nem deixa o coração falar o tempo todo. Ela sabe que não pode mudar o rumo dos acontecimentos, mas sabe que pode e deve mudar o jeito de ver o que aconteceu. Ela poderia simplesmente comprar um ingresso e assistir de camarote. Mas ela quer dar o show, viver ali, ela quer ser e ela já foi. Piegas, não? Ela é tipicamente uma mulherzinha piegas. Mas devo admitir que sempre senti tesão por pieguisse.
Agora eu estou sentada desejando meias quentes e mais uma xícara de chá, relembrando os momentos banais que eu vivi sendo essa Vanny. Ela os viveu como se não fosse mais fazê-lo, como se não fosse mais viver pra ter dias comuns e normais. E talvez ela tenha razão. Vai que amanhã eu acordo com uma Vanny-depressiva ou uma Vanny-revoltada?
Daqui a uns 10 minutos eu irei dormir com ela. E vou me despedir dela, e desse dia tão ameno que vivi. Mas a única certeza que eu tenho, eu e todos os hóspedes que moram aqui, é que por mais que amanhã seja outro dia o amanhã será sempre do mesmo jeito. Quem muda sou eu e as Vannys que moram em mim.


Salvador, 22 de maio de 2009.

P.s.: Hoje é domingo quase segunda, e acho que essa Vanny resolveu ficar por aqui pelo menos o final de semana. Será que ela vai embora amanhã? Eu, sinceramente, espero que não. Ser feliz de graça assim é tão mais delicioso!

21 de mai. de 2009

Meu pecado só


Meu pecado, meu pecado, meu pecado só
Olhos nesses olhos
Boca nessa boca
Aquele cheiro dessa pele na minha pele só
Na minha pele que deixou de ser minha só
Pele na pele dele
Poros nos poros dele
Meu pecado, meu pecado, meu pecado só
Beijos nos beijos dele
Duas bocas, mil maneiras
Dentes que mastigam num sorriso só
Gostos que me invadem de um jeito só
Meu pecado, meu pecado, meu pecado só
Me joga na lua
Me rouba uns pedaços
Já não sei mais como é ficar somente só
Ficar só sem essa parte que é sua só
Meu pecado, meu pecado, meu pecado só
Só não belisca tanto assim moreno
Só não me aperta tanto assim menino
Que eu tenho medo é de acordar
E estar só.
Meu pecado, meu pecado, meu pecado só

19 de mai. de 2009

Contrabalançar-se I

Foto por Amanda O.! (Beijos hermanita ;*)


Minha testa grudada no embaçado dos vidros do ônibus, luzes dançando na minha retina, eu sinto algumas gotas da janela aberta do passageiro da frente. Companheiro, faria o favor de fechar? Então, minha testa grudada no vidro frio, aquele ônibus parado há minutos, que pra mim pareciam horas, pessoas e pessoas compartilhando aquele mesmo ar, aquele aperto, aquele calor infernal tão paradoxal comparado ao toró que caía lá fora. Mas eu estava alheio a tudo isso, só pensava nela, nela, meus olhos no embaçado das luzes do semáforo, minha cabeça nela, nela. Juro que eu preferia não pensar. Ninguém escolhe ficar com o maldito pensamento parado numa criatura, por mais bela e adorável que ela seja, por mais que goste dela, e eu gosto muito dela. E acho que ela gosta de mim também, pelo menos ela me diz desdizendo. E o pior é que eu sei, sabe quando você sabe uma coisa, que não tem como saber? Digo, não é que eu saiba por ela me dizer, porque mesmo ela desmentindo, ela me diz. Mas eu vejo nos olhos dela, nos olhos da minha pequena, eu vejo que ela gosta de mim, que se importa comigo. Ela finge que não, ela se boicota, tenta se proteger, brinca de durona. Na verdade eu acho que ela pensa que não serve pra mim, de alguma forma. Eu simplesmente acho o contrário. Eu nunca servi pra ela, mas não sou tão bondoso pra deixá-la seguir. Eu quero, eu preciso dela. Agora por que ela faz essas coisas comigo? Se ela gosta de mim, se ela sabe que eu gosto demais demais dela, isso é tão claro e evidente que até esses desconhecidos nesse ônibus lotado podem ver em mim, quase podem ver a imagem dela sorrindo pra mim nos meus olhos, quando eu penso nela, e eu sempre estou pensando nela. Mas ela faz. Essas coisas que ela faz, que me machucam, que me fazem pensar em deixá-la, e que me deixa tão mal em pensar que alguma hora eu pensei em deixá-la, como se eu conseguisse! E ela sabe que eu não conseguiria, queria não ser tão óbvio assim. É por isso que ela faz essas coisas, porque ela sabe que eu não vou deixar de gostar dela fácil. Mas e se ela deixar de gostar de mim? E sou tão desgostável, sempre fui. As pessoas desgostam de mim com facilidade, talvez por ser óbvio demais. Sempre fui previsível, sou previsível até na minha imprevisibilidade.

Mas a minha menina brinca de bola com o meu coração, eu fecho os olhos agora e as pessoas pensam que eu cochilo, cochilar em ônibus parece divertido, mas eu estou pensando na minha pequena segurando meu coração com aquelas mãos miúdas, brincando com ele. Eu não me importo, juro, eu daria meu coração pra ela brincar, se isso fizesse aqueles lábios mornos de moça sorrirem, o iluminar do sorriso de sol da minha pequena! E eu dou risada com os olhos fechados ainda, me aperta no peito o coração que ela devia está nas mãos, eu tenho medo de perder, por favor menininha, não deixe de gostar de mim. E eu me sinto fraco demais em pensar assim, bato minha testa naquele vidro, primeiro de leve, depois mais forte, até alguém olhar pra mim com aquela cara de susto, e eu percebo que quebrar a minha testa não vai me fazer ficar mais forte. Eu queria mesmo era acordar num dia de sol como aquele não era, e ter desgostado daquela garota instantaneamente. Mas estava chovendo. E a única certeza que eu tenho, nesse ônibus, nesse trânsito parado, nessa alma de amante irreparável, é que enquanto chovesse, eu continuaria gostando dela.
E não parava de chover.



16 de mai. de 2009

Destino de lua

Não é que eu esteja com bloqueio mental, nem com falta de inspiração. Mas é que ultimamente só tenho escrito coisas pessoais demais, não que os outros posts não sejam pessoais demais, cada personagem meu tem um tiquinho de mim, não seria genuíno se não fosse assim. Mas é que ultimamente, eu tenho sido cada vez mais transparente, e isso não é tão bom. E os textos estão saindo tristes, vocês não querem ler contos e crônicas e poemas e poesias tristes, não é mesmo? E juro que eu tava pedindo aos céus algo que me fizesse escrever mais visceralmente, ainda cheguei a pedir uma desilusão amorosa, já que eu tava hiper feliz. Ou ficava hiper feliz. Felicidade é uma coisa tão cíclica, a minha então, é uma senóide. Eu sou tão estranha! Cada dia isso fica mais evidente, Vanny não se contenta com nada, Vanny fica feliz e triste por bobagem, Vanny se magoa fácil e esquece mais fácil ainda, Vanny pra lá, Vanny pra cá...
Pensar tanto nos meus sentimentos tem me feito ficar egoísta demais. Juro que a culpa não é toda minha, é a lua, posso jurar que é a lua. Tá cheia né? Vai passar logo, e eu vou voltar a sorrir, a cantar, a mentir, a amar. Não que eu não esteja sorrindo, nem cantando, nem mentindo, nem amando. Vocês conseguem se imaginar vivendo sem fazer essas coisas? Porque eu não! E falo isso batendo o pezinho! :)
Eu só queria mesmo era poder olhar pro espelho, e ver alguém constante. Ser inconstante é tristemente legal, e legalmente triste. Eu cansei de oscilar, cansei de ser tantas Vannys, cansei de guardar em mim mais sonhos que noites, ter mais amor latente que ideais pulsantes, querer ser mais do que sou. Cansei!
Mas a lua cheia me diz, que amanhã eu vou adorar ser tão mutável assim.



Dica:
- Não sejam piscianos! Nunca, corram dessa cilada, planejem o nascimento dos filhos de vocês em qualquer mês, menos em meados de fevereiro e março, e tomem cuidado com o ascendente também. É um signo lindo, lindo, mas dá um trabalho...

12 de mai. de 2009

Bem-te-quis

Foto: Tentativa de delícia! ahsauhsuahsuhaus


Eu não tô triste não neném
Nem com raiva de você
Você só me faz bem
Como eu poderia?
Também não tô chateada
Sossega, eu não tô magoada
É impressão sua
Você só me faz bem
Como eu poderia?
Shiii! Não fale mais
Eu não vou embora agora
Eu não vou deixar pra trás
Você que só me faz bem
Como eu poderia?
(Mas cá pra nós, amor
Bem que eu gostaria!)

11 de mai. de 2009

Pega aqui na minha paciência, pega

Queridas colegas, esse post é pra vocês. Para nós meninas, bobinhas ou não, apaixonadas ou não, prafrentex ou não, ainda acreditando em contos de fadas e príncipes deliciosos, românticos e viris montados em reluzentes cavalos brancos. *Pausa pra salivar.* Mas eles não existem.
O que existe mesmo, gatas, é um bando de filhos da puta com colhões, que tem na vida um único objetivo, e sobrevivem para uma única finalidade: nos comer.
Forte demais, cruel demais, real demais. Até o mais parvo dos machos, aqueles que usam lentes trasitions, papete e cinto bege combinando com sapato, só quer comer você. Isso é fato consumado, isso é verdade universal.
Exemplos:
- Bom dia, Marechal Rondom já passou? = Você é mulher, eu te como.
- Você sabe onde fica essa rua? = Eu te comeria fácil.
- Por favor, que horas são? = Eu ainda te comeria.
- *Suspiro*= Nunca desistirei de te comer.
E milhares de outros exemplos, atos e ações, frases aparentemente inocentes que tem um único significado, e que denotam o único motivo de existirem homens na face da terra: fornicação. Ou a boa, e velha foda mesmo.
E sabe do pior? É que se a gente faz o que faz, finge entender as merdas que eles dizem, as merdas que eles fazem, as merdas que eles são, é porque na verdade a gente só quer ser comida. E bem comida. É ou não é?
Então gatos, nem precisam vim com mimimi estou apaixonado por você, mimimi você é o amor da minha vida, mimimi te amo tanto... Se poupem e nos poupem. Olha só o tempo que a gente pode economizar sem essas hipocrisias! Por favor, aprendam a brincar.
E meninas, unir-vos! Vamos dar as mãozinhas e gritar em uníssono: Ô sacanas, parem de ser escrotos e fingir gostar de algo além da própria cabeça do falo! A gente não vale nada também, é só jogar direito que damos pra vocês. :D
Ou não né? Ou não!






Fato:
As montanhas de merda cada dia aumentam mais. Mas você pensa que pode perseverar mais um pouco, que é valente e corajosa o suficiente pra tentar se levantar e permanecer ali. A real mesmo, é que merda é merda e sendo merda só tende a aumentar. Aí você precisa se sujar pra perceber que passou da hora de vazar dali. Mas o ponteiro do relógio não erra jamais! E tudo passa...
As coisas mudaram meu bem, e eu também!

9 de mai. de 2009

Antropofagia

Ela dizia naquele timbre típico das menininhas que amam demais, dizia que estava apaixonada por ele. E tremia, entre um pulsar do coração e outro. Dizia uma porção de coisa sem sentido, que fazia o maior sentido pra ela. E ele não entendia, claro, eles nunca entendem. Não entendia o que aquela menina estava falando, ou porque dizia tudo aquilo com os olhinhos úmidos. E mais ainda, não entendia porque ainda não tinham se beijado. Ela falava e falava, e ele observava o curvar gracioso do canto dos lábios dela, mas não absorvia um terço do que ela dizia. E ela falava com o coração, maldita sina das menininhas que amam demais! Falar com o coração é pior que assaltar uma igreja.
Ela falava sobre amor e ria, e ele ria dela também, pensava que essa garota era mesmo muito bobinha, e por que eles ainda não tinham se beijado? Ele não entendia, claro, eles nunca entendem. Não sabia que ela era uma daquelas que amam demais, que amam intensamente demais. Pra ele, era só mais uma menina bonitinha que estava falando mais do que devia. E ele a beijou. Sôfrego, rápido e seco. E ela tremeu de susto. Você esperava algo diferente de uma menininha que ama demais? Ela queria beijos cartões postais, ele beijava telegramas. Mas ela já estava apaixonada por ele, e não tinha remédio que sarasse isso. Nem um beijo automático, nem penicilina.
Ele sorriu daquela forma que eles fazem quando conseguem alguma coisa. Ela sorriu daquela forma que elas fazem quando estão na frente da coisa mais importante do mundo. Ele riu de novo, ele não entendia. Porque eles nunca entendem? E ela não falava só com o coração. Todas as partes do corpo, gritavam o nome dele. O maior pecado da vida de uma menininha que ama demais! Na vida de uma menina, pra falar a verdade. Dizer que está apaixonada, com o corpo e com a boca, ter seus poros chamando por ele, pedindo por ele, querer estar com ele mais do que estar consigo, é praticamente assinar sentença de morte com hora marcada e carrasco arrumado. Mas sina é sina, destino é destino, e homem é homem. E eles não entendem, eles nunca vão entender.
A nossa menina ainda sorri , cabeça no céu, alma na mão dele. E ele ainda sorri, pés no chão, coração cerrado... e cabeça na próxima.
Mas ela não sabe, claro. As menininhas que amam demais nunca ficam sabendo.

Cromoterapia

Nesses olhos de menino
Tento pintar meu mundo
Com lápis de cera e cor
Os olhos desse menino!
Outrora sempre tão negros
Agora arco-íris-pupila
Meu mundo nos olhos dele
Nos olhos do meu menino!

8 de mai. de 2009

Entre outras coisas

I

Ele tá sentado na beirada da cama, fumando como se fosse acabar o mundo. Você olha pra ele e tenta gravar aquela cena na cabeça, pra lembrar melhor depois, mas você nem precisaria olhar mais uma vez pra saber que lembraria. Ele era tão sério fumando! Você abafa uma risada, sabe que não faz sentido, que não tem graça, mas você não consegue imaginar como alguém consegue fumar tão sério daquele jeito, é engraçado. Ele olha pra você de lado, você morde os lábios e se faz de séria, droga, ele sabe que você tava prestando atenção nele, e você explode em risos, e se joga nos lençóis com falta de ar, efeito do álcool, ou você é mesmo tão boba assim? Não devia ter bebido tanto vinho meu deus, você pensa, mas não se importa mais, ele largou o cigarro e está vindo manso na sua direção, que olhos são aqueles? Azuis ou verdes? Não importa mais, eles agora estão fechados, ele te beija e a barba dele tem cheiro de fumaça e maçã. Ele te beija mais, e mais, e a barba dele desce percorrendo seu corpo, faz cócegas e te lembra uma esponja de banho. Uma esponja, você ri e ele pergunta se você disse alguma coisa. Não, pode continuar. Tá tocando uma música triste na rádio, ela te lembra um ex-namorado, mas não por ser triste. Mas porque ele cantava toda errada. E nessa hora te dá uma vontade enorme de fumar, você não sabe porque mas dá, e você nunca fuma. Me dá um cigarro. O quê? Ele não escuta. Um cigarro. Ah sim. Ele acende e te entrega, você levanta nua e encosta na janela, olha pros carros na avenida, tudo muito movimentado, quantas luzes, é por isso que vive faltando água, você comenta. E você fuma como se fosse acabar o mundo. Ele ainda tá sentado na cama olhando pra você, e agora você não vê mais nenhuma graça nele. Você apaga o cigarro, veste suas roupas e sái. Não sem antes perguntar o nome dele.


II

Aquela festa tá barulhenta demais, quente demais, e cheia demais. Você quer ir embora, mas não vai. É quando você o vê. Ele é engraçadinho, você pensa. Magro, deve ser bem novo, aquela barba não engana. O cabelo encaracoladinho é um charme, os óculos também, não mais que a cara de tonto. Ele fuma. Você pergunta se ele tem isqueiro, e você nunca fuma. Ele lhe dá o cigarro, você recusa. Você puxa ele pro canto e dá um beijo. Dois. Uns amassos, vá lá, ele é gostosinho até. Vamos dar uma volta? Você pega ele pela mão. Ele é engraçadinho. Você andam pelas ruas de mãos dadas, quanto tempo você não anda de mãos dadas? Sentia falta disso, ele daria um ótimo namoradinho. Era discreto, aquela barba era um charme, e a cara de bobo era a cereja do bolo. Você pergunta se ele tem namorada. Ele diz que ela se chama Carmem. Você pergunta se a Carmem é bonita, mas nem espera ele responder. Vocês já estão no quarto, ele tem mesmo duas mãos? Rápido mesmo, você nem chega a gozar. E ele já está fumando de novo.


III

Você anda depressa pela rua, aquelas luzes te incomodam de um tanto, que dá vontade de ser cega. Que horas eram? Não é possível que tenha tanta gente na rua ainda, era cedo assim? Você pensa com raiva, malditos carros, mas você queria mesmo era ter um pra não precisar voltar de ônibus pra casa. O menino não tinha, será que ele tinha mesmo 18 anos? Você nem lembra o nome dele, passa vagamente pela cabeça começar com R, mas a única certeza que você tem é nenhuma, não devia mesmo ter bebido tanto vinho. O ponto está vazio, enfim uma coisa boa aquela noite. O ônibus também chega logo, você sorri pro cobrador e pensa que sua sorte está mudando. Ele sorri de volta, achando que você está procurando ousadia. Idiota. O quê? Essa foto aqui, é sua mulher? Você ainda está sorrindo. E ainda sorri enquanto se senta, idiotas, fala olhando pra a janela. As pessoas realmente precisam de tanta luz assim? Você imagina que viveria bem melhor com pouca luz. Não sou planta. Uma senhora que acabou de sentar ao seu lado pergunta se você falou com ela. Eu disse que não sou planta. A senhora também não é. Ela se benze, e muda de cadeira. Melhor. Será que ela teria um isqueiro? Mas você nunca fuma. É, você pensa, vou começar a fumar.

7 de mai. de 2009

Rainha do gelo

"É tudo gelo e pedra, bem meu coração."

A neve descia mansa e densa, cobrindo tudo de um branco tão claro que doía as vistas.

Ela olhava a rua da janela, trancada no seu quarto, no mundo só seu. Nunca tinha se permitido ir além, nunca tinha se deixado fluir.

Tinha a pena de nunca ter amado ninguém.

"Mas eu não ligo mesmo. Assim fico protegida de mim".

Enxugou as lágrimas com as costas da mão, a pele gelada tocando nas bochechas rosadas, um gosto de tristeza e sal escorrendo pro canto da boca. E não demorou muito pra romper no pranto amargo das moças mal-amadas.

E chorou, e gritou, e esperneou, e gemeu, e soluçou, e parou, e começou tudo novamente. Como se as lágrimas mornas fossem quebrar o coração empedrado, como se fosse derreter a crosta que mantinha preso todo o seu amor. Mas nada mudaria o destino daquela jovem.

Nem se ela quisesse, estava escrito. E quando se está escrito, nada mais pode ser feito.

Nem chorar.

Os flocos de neve eram cada vez mais escassos, e parecia mesmo que estava parando de nevar. Mas ela não notava.

Seu coração tinha trincado.


6 de mai. de 2009

Sobre o tempo

Foto por: Lucas Lobo Azevedo

Tá tudo feito
Todos os fatos, e os defeitos
Tá tudo certo como 2 e 2 são 7
Mas não era cinco?
Eu conto
Os tempos mudaram meu bem
E eu também
Quero um batom novo
Preciso daquele esmalte
Meu jeans skinny tá apertado
Meu coração tá apertado
Será que ele não vem?
Ah, mas se ele não vier!
Eu vou
Os tempos mudaram meu bem
E eu também
Tenho um caminhão de coisas pra fazer
Uma lista de pessoas pra esquecer
O telefone dele pra anotar
Mas e se ele não telefonar?
Eu faço
Os tempos mudaram meu bem
E eu também
Tá bom que meu coração é dele
Tá bom que eu já sou toda dele
Mas e se ele não me quiser?
Eu quero
Os tempos mudaram meu bem
E eu também

Essa história dava um conto...

Era uma vez uma princesa triste que vivia só, só, somente só, cerrada na torre mais alta de um castelo qualquer. A princesa coitada, vivia suspirando e ansiando o dia que se entregaria às delícias do mundo extra-castelar. E esperava, e rezava, e desejava, e planejava, e sonhava...
Até que em um belo e dourado dia de sol, apareceu nas portas do castelo um príncipe que não era lá essas coisas toda. Mas mesmo não sendo lá essas coisas toda, ele roubou a princesa triste e levou-a consigo pro mundo. E ela, como era de se esperar, se apaixonou perdidamente por ele. Mesmo ele não sendo lá essas coisas toda.
Mas não sejamos duros com a pobre princesa triste. Vocês queriam o quê? 19 anos trancafiada na torre mais alta de um castelo qualquer, o mínimo que ela poderia fazer era se apaixonar pelo primeiro ser vivente que aparecesse pra tirá-la dali. O pouco é muito comparado ao nada.
Daí, a princesa triste ia vivendo quase feliz com o príncipe que não era lá essas coisas toda, descobrindo as indecências da vida. Mas o que ela não sabia ainda, é que o príncipe que não era lá essas coisas toda, já tinha roubado muitas princesas, tão tristes quanto ela por aí. E uma delas não tinha superado o fim do conto-de-fadas. Na verdade verdadeira, nem ele. E viviam paralelos à vidinha medíocre da princesa triste, um tórrido e complicado caso de amor.
Bem complexo na verdade: o príncipe que não era lá essas coisas toda parecia gostar mesmo da princesa triste, mas vivia preso a uma história mal resolvida com a princesa inconformada. Que por sua vez, podia até não gostar de verdade do príncipe que não era lá essas coisas toda, mas inconformada ela era, e inconformada sempre seria. E a princesa triste já tava amando o príncipe que não era lá essas coisas toda e só saía perdendo nesse caso. Mas ela tinha lá outra alternativa?
O esperado agora é que eu comece a narrar como o príncipe que não era lá essas coisas toda se descobriu morto de amores pela princesa triste, e tanto e tão forte era esse amor, que ele teria matado a princesa inconformada pra que ela os deixasse em paz e que pudessem viver felizes para sempre, como manda o figurino.
Mas eu não quero.
Eu quero mesmo é que a princesa triste se revolte, queime as anáguas e mande o príncipe que não era lá essas coisas toda e a princesa inconformada pro inferno juntinhos. Eu quero mesmo é que a princesa triste descubra que fora do castelo existe um monte de possibilidades e oportunidades, e que em cada esquina tem um nobre que vale sim muita coisa, esperando só a chance de fazê-la feliz. Eu quero que a princesa triste viva! Feliz para sempre, como convém, mesmo que só, por enquanto. Ela já não passou 19 anos trancada numa torre mesmo?

5 de mai. de 2009

Dancing queen


Eu nunca fui um bom partido.
Nunca fui como aquelas menininhas bonitinhas e inocentes, que dão mais risadas do que falam, e quase sempre balançam as cabecinhas miúdas em sinal de concordância no final de cada frase.
Eu sempre falei demais, falei o que me vinha na cabeça e o que não me vinha também, pensar demais antes de formar uma frase lúcida nunca foi o meu forte. Tô pouco me lixando para a lucidez.
Nunca fui como aquelas mocinhas delicadas e faceiras, que quase dançam ao andar, lépidas e graciosas como fadas bailarinas.
Eu sempre fui desengonçada como a zorra, vivo tropeçando no meu dedão maior que as sandálias, e tenho um senso de equilíbrio quase nulo.
Nunca fui como aquelas jovenzinhas simpáticas e sempre tão gentis, que falam em redondilha maior ou em versos alexandrinos.
Eu sempre tive o vocabulário chulo de uma mulher da vida, e perto de mim muitas vezes elas parecem amadoras.
Porque meu bem, de teoria eu sei é tudo.
E o pior, é que no fundo no fundo, eu sou um bom partido.
Mas quem liga pra profundidades?




Fatos:
- A lua tá mudando, e junto com ela o meu humor e o meu amor. Aliás, meu humor oscila várias vezes durante o dia, variando de ''felicidade extrema'' a ''fossa mor'', passando por ''apatia momentânia'' e ''depressão total''. Pode isso? Como é que eu consigo conviver comigo mesmo há 18 anos? Vá lá saber.

- Amo demais a chuva, o tempo frio, a possibilidade de me panharem num beijo no meio do caos do trânsito, mas namoral, a faculdade vira um brejo, a cidade pára e as pessoas ficam todas mui loucas. Olhando pela janela do busu, duas horas e meia de congestionamento, eu meio desorientada pelo sono, pela cólica e pela fome, vejo elas correndo com guarda-chuvas quebrados no meio dos carros, e aquilo tudo perde a forma, as cores se fundem numa só, e eu só escuto ABBA tocando nos meus ouvidos, e é tudo tudo muito louco mesmo. Tsc tsc.

E como já dizia o amigo de CS de Fernando (eufemizando): Aspirar o orifício anal com a mangueira, ninguém almeja!

4 de mai. de 2009

If I fell


- Mas, como pode a gente se apaixonar assim, de supetão, por um pedacinho de sorriso miúdo brotado dos lábios de um semidesconhecido?
- Menina, tu não se apaixonou por esse rapaz, nem por nenhum outro.
- Como não? E o que é isso aqui batendo forte em mim? Me diz.
- Você se apaixonou foi por se apaixonar. Fascina-te o amor de brincadeira, essa coisa masoquista de ficar se desgastando, de gostar só por gostar. Você ama o amor, mas sequer conhece o amante. E sabe? Para com isso. Para já com isso, veste o seu sorriso mais bonito, aquele de girassol, sabe?, e vá pro mundo.
- Mas... e ele? E aquele rapaz que eu já amo? O que faço com o nosso depois?
- Esquecerá rápido, como todos os outros. Coloque logo uma pedra lisa no meio dessa história, não gaste seus sonhos, menina. Você tem o mundo todo pra você, como um jardim, esquila.
- Não, não. Não posso deixá-lo agora. A gente nem sequer compartilhou um beijo ou um sorvete de flocos.
- Menina, guarda seus beijos. Não há criminoso sem crime, nem nada que dure uma nuvem. Acredite em mim, seus beijos ficarão melhor ansiando nos seus lábios de moça. Até aprender a jogar como se deve, até ter todas as cartas a mostra na mesa. Anda, me dá a mão, tira esse bico dessa cara bonita, bota sua máscara de passarinha e me segue.
- Tá. Eu vou! Mas só se for sonhando...

3 de mai. de 2009

Tal qual


Tal qual um gigolô
Meu coração se vende
Por qualquer dúzia de palavras
Por qualquer sorriso distraído
Tão promíscuo!
Esse coração bobo que samba
Enredos de várias escolas
Choros de várias violas
Coração vadio, coração safado
Constantemente aparvalhado
Constantemente machucado
Inconstante.
Tal qual um gigolô!

2 de mai. de 2009

- Então neguinha, qual o drama?

O drama é que eu te gosto tanto, mas tanto, que esse gostar já tá me dando um trabalho danado;
O drama é que nem disfarçar consigo mais, nem fingir tento mais, nem fugir posso mais;
O drama é que a saudade é um caminhão e a distância é um patinete (Isso também não te revolta não?);
O drama é que se eu te ponho no colo não largo mais é nunca, te encho de carinhos e beijinhos sem ter fim;
O drama é que você é de todo lindo e quando dá risada desintegra meu coração todo todo;
O drama é que eu te quero, todo e sempre, bem assim e só assim;
O drama nêgo, é que você ainda me faz drama!
Bendito dedo-podre...

1 de mai. de 2009

Mistério do Planeta

E eu suspiro tendo você perto demais, num abraço só, coração seu, coração meu ritmados.E você olha pra mim e me diz coisas fúteis, que eu sempre finjo ouvir mas tô longe, longe, pensando no nós, pensando no tudo. E eu te abraço do nada, e você finge estranhar, mas eu sei que você tem esses mesmos medos que eu. Essa angústia enorme que me dá quando eu penso não te ter mais por perto, não te pôr mais no colo, não ouvir mais seu riso. E você parece que adivinha, você sempre adivinha, parece que mora mais em mim que eu. Você ri daquele jeito só seu, e me abraça mais forte, quase que pra me machucar, e me pede pra não ficar triste não meu bem, que você vai tá por aqui. Mas tem sombras passando pelo teu rosto também. Meu coração manteiga se desfaz todo todo, e eu olho pra você e penso se é isso que é amar. Se é o amor que eu tento negar, que eu tento fingir que não é, que não acontece. E meus olhos orvalham, uma lágrima desce serpenteando pela minha bochecha e encosta na tua, teu rosto bem rente ao meu. E já não me importa se eu te amo mesmo, e muito menos se você também. Compartilhar uma lágrima é quase dividir um coração.