21 de set. de 2011

Looping


E me oferece um drink okay baby um martini duplo com azeitona sabe azeitona não cereja ele sorri e faz o sinal para o garçom trazer achei que você fosse o tipo que pediria algo doce fico entediada o que uma moça como você faz sozinha em um lugar como esse? olha baby se te contasse você não acreditaria em porra nenhuma e é história longa demais tenho a noite inteira enquanto bar estiver cheio de garrafas okay é que matei um homem a tão pouco tempo que minhas botas ainda estão encharcadas de sangue ele gargalha com a cabeça jogada pra trás é a primeira vez que percebo como ele é bonito eu matei um homem assim parecido com você é o que eu faço de melhor penso quase alto demais não acho que você seja capaz de matar alguém com essas mãos pequenas você não acreditaria bebo todo o conteúdo do copo em uma golada só e já não sinto o gosto nem vejo as cores do mesmo jeito há quanto tempo bebia naquele lugar? talvez duas ou três horas ele me olha com a curiosidade de uma criança em frente a um parque de diversões e decerto não põe fé alguma nas merdas que digo bêbada como um gambá foda-se então por que você o matou? negócios baby ele é tão jovem que tenho pena quer tomar o próximo drink na minha casa enquanto me conta os seus negócios? debocha de mim whatever não sou capaz de dar dois passos sem tropeçar no terceiro o sigo em zig zag por um beco estreito não muito longe dalí o apartamento é escuro e úmido e já na porta de entrada a língua dele escorre pelo meu pescoço o hálito de uísque nacional os músculos bem definidos quase explodindo a camiseta as mãos ligeiras em brasa nos meus seios quase perco o jeito ao enfiar a faca dois dedos acima do umbigo e torcer com toda a força que escondo ter a boca dele ainda molhando a minha sem tempo pra mais um gemido o sangue sujando a minha bota merda adoro essa bota pego um cigarro na bolsa ainda olho mais uma vez pra foto dele 5 mil por um pescoço tão lindo e uma bota perdida ainda está no começo da noite volto cambaleando pro bar e ele está sentado exatamente no mesmo lugar sorrindo e me oferece um drink mas eu parei de beber.

7 de set. de 2011

Cisco

Desde pequena ouço dizer que homem não chora
Mas por vezes ouvi meu pai chorar à noite
Por horas a fio
Escondido na cozinha pra a gente não escutar
E quando algum dos meus irmãos o pegava chorando
Ele sorria e dizia que era um cisco
Era sempre um cisco.
Eu não entendo o porquê dessa história
De homem não chorar
De homem não poder chorar
Porque meu pai quando chorava
Até muito tarde, como um menino com medo
Ficava muito mais humano