1 de dez. de 2009

Reticências

... e reticências por favor, para ocupar o vão enorme que povoa a minha mente. Meu recurso pra não dizer que não existia nada antes do agora. Mas o que existia - se é mesmo que existiu um vão momento de lucidez - não importa agora. Nada importa agora. Só os calos dos meus pés, o sol forte esquentando a minha cabeça e esse vento que sopra na direção contrária dos meus passos.
Os automóveis, os pedestres, o sinal parado no vermelho. Se eu tivesse coragem, agora quando esse maldito sinal abrisse eu me atiraria em qualquer um desses carros de luxo e colocaria fim em toda essa baboseira que eu não paro de pensar. Quase posso ouvir o barulho seco do meu corpo magro amassando o capô prateado de um sedã de luxo, a poça de sangue tingindo lentamente o asfalto quente de vermelho enquanto eu agonizo até morrer. Mas nem coragem eu tenho. Nunca tive.
O sol cada vez mais quente, o vento soprando cada vez mais forte, talvez se mais forte me arremessaria dali, me levaria voando pra algum lugar bom, eu penso, tão infantil, tão boba, tão menina-amarela-que-ainda-devaneia-com-castelos-flutuantes-feitos-de-pura-matéria-de-amor-perfeito-sem-fim. Como se tudo isso que é bonito, fadas, doendes, sereias, unicórnios, pote de ouro no fim do arco-íris, nuvem de algodão doce, carona em estrela cadente, amor que dura para sempre, existisse. Como se a realidade não tivesse a cor do sangue que corre nas minhas veias depressa, bombeado pelo meu coração que não cansa de palpitar em vão seus anseios. Que suspira e vibra tenso no meu peito, ecoando o aviso prévio da morte sem cor que me assaltará um dia.
A avenida não tem fim. O sol continua lá, parado no meio do céu, a pino, fervendo o resto da minha lucidez. O vento continua soprando, me impedindo um pouco de caminhar, mas eu caminho, não por vontade, não por escolha, pura falta completa de opção. Qualquer lugar será melhor que aqui. Qualquer companhia será melhor que a minha. Qualquer sensação será melhor que essa.
E por fim, mais reticências. Pra dar esperança de que minha vida ainda tem continuação...

6 comentários:

Anônimo disse...

Hoje eu já disse que você chega a ser nojenta de tão linda e talentosa?
Não?
Então finge que eu falei.
bjo

ranagar disse...

Bom, para começar tenho 13 anos :3
e já havia visitado seu blog, sim, sei quem você é, estudante de letras, mora em São Paulo, certo?
Eu já dei uma lida por aqui, e claro, chamou muito minha atenção pois como moro em Salvador é difícil de encontrar uma boa produção textual. As únicas pessoas que eu me espelho no meu estado são meus professores, meu pai, e poucos amigos que seguem a mesma linha da literatura que você.
Apesar de amar escrever, tenho que admitir que não sou uma afortunada que obtem o dom da escrita ou da concordancia da gramática (O que me fez ficar de prova final este ano em português) Por isso tenho parado de escrever estes dias, pelo simples motivo de que percebi a bagunça de ideias que meus textos são. Felizmente, decidi continuar a produzir, afinal, é com a experiencia que se aprende.
Obrigada pela grande inspiração,
abraços de sol *-*
Alanna.

Naila de Souza disse...

...
fugiu-me as palavras.

Texto vivo, tão vivo que dá pra ouvir o "tum-tum" do coração.
Cheiro grande moça

Dan Silveira disse...

Que lindo, cara! Muito boooom!! Quanta beleza!!! Como disse Nana... dá pra ouvir o "tum-tum" do coração!
Dá uma boa cena...

Bruno Carvalho disse...

Rá vânnys, não vale copiar meus títulos :P ashsauhsauashuashsau Brincadeiras à parte, muito bom o texto, bastante ritmo e rico em imagens, como não poderia deixar de ser.

Beijo

Anônimo disse...

depois que eu li isso, prefiro não comentar de tão lindo.
...