1 de ago. de 2009

Mãe


Eu nunca vou esquecer daquele cheiro. Aquele cheiro das mãos dela, uma mistura de sabão com água sanitária, o cheiro daquelas mãos macias que me afagavam os cabelos e segurava forte o meu rosto pra me beijar as bochechas. Cheirar, ela diz que cheirar é mais bonito que beijar, porque você sente o cheiro da pele do outro. Eu lembro que passava tardes sentada ao lado dela, vendo-a lavar as roupas minhas e do meu irmão, esperando o último enxágüe pra poder chupar as peças de roupa antes de estender. Eu acho que ela não achava aquilo muito saudável, mas eu gostava e ela fazia tudo pra me agradar. Ela fazia tudo pra que eu tivesse tudo que pudesse me dar, e o que não pudesse também, parece que a expressão “das tripas coração” foi feita especialmente pra ela. Eu lembro também das muitas e muitas lágrimas que vi escorrer pelo rosto dela, algumas de alegria, muitas de tristeza. Não entendia metade delas, eu cresci vendo minha mãe chorar por tudo e por todos, sem nenhum motivo aparente, então pra mim era algo comum. Mas agora eu sei que as lágrimas que ela derramou por besteiras eram só pretextos pra esconder os reais motivos de tanta choradeira. Minha mãe sofreu por coisas que ela nem mesmo sabe.Meu espelho. Eu vejo a figura da minha mãe lendo um romance folhetinesco, óculos apoiados no nariz, pernas estendidas displicentemente sob o sofá, esperando o chamado de um dos filhos pra largar tudo e atender, e vejo como eu serei amanhã. Não tão branca, não tão jovem, não tão linda, não tão altruísta, mas com a mesma essência. E nada me orgulha mais do que a possibilidade de ser ao menos metade da metade do que ela é. Meu orgulho. Mãe, pai, irmã mais velha, melhor amiga, professora, companheira. Meu tudo. Só uma coisa, eu não sei se eu conseguirei ser tão forte. Ser tão guerreira, ser tão raçuda a ponto de conseguir cuidar de si, duma casa e de filhos não tão exemplares assim. “Filhos maravilhosos, você e seu irmão, minha vida”, ela diria. Mas eu sei que ela merecia mais, muito mais. Viver distante dos seus e da sua terra que um dia foi tudo, abdicar de uma vida pelo nosso futuro. Uau, mãe! Quem dera ser eu que nem a senhora! Não só compartilhar o mesmo sangue, o mesmo signo, o mesmo gosto pelos livros, mas também essa coisa que te faz levantar todos os dias pra sobreviver. E seria pedir demais querer ter nas mãos o mesmo cheiro e a maciez das suas, e querer ter o colo tão quente e olhos tão puros quanto os seus? Eu te amo mãe. Te amo, e tenho o maior orgulho do mundo de ter nascido filha sua. Só não me manda arrumar o guarda-roupa de novo que eu posso mudar de ideia...

6 comentários:

Amanda Oliveira disse...

Irmã, se era para me deixar chorando sem parar, acabou de conseguir, viu? Lindo, Vanny!

Naila de Souza disse...

E ela deve suspirar e os olhos devem brilhar ao ler depoimento tão lindo, simples, desnudo e intenso!

Lindooooo!

Cheirooo enorme

Denise disse...

Que lindo
Arrumar o gaurda-roupa seria sacanagem ,abala qualquer bem querer rs

boba demais vc fingindo q nem adora rs

beijocas

Denise

Doce Lamento disse...

Admiro seus textos desde cedo
Com o silêncio contemplava suas belas palavras, mas hoje, hoje eu não pude deixar de comentar esse texto incrivelmente sincero.
Quando se trata de amor, amor de verdade como esse seu e dela fica mais facil fazer o coração se enxer de verdade e os olhos dos outros de lagrimas.

Chris Arruda disse...

Como vc eh linda Ny! chorei aqui :p muito lindo o texto!!coloca em um quadro pra ela!rs

Mónica Lacerda disse...

ah, mãe
mãe-terra
mãe-livro
mãe-sangue