4 de ago. de 2011

Gaia

Carreguei o amor dentro de mim durante muito tempo. Escondi dentro de mim o fardo da certeza durante a vida inteira. Pintei todas as paredes de amarelo, coloquei um jarro de flores na janela, construí num galho um ninho feito todo de açúcar. E o amor invadia o meu corpo lentamente como uma trepadeira. Transformou cada gota de lágrima despencada em mel e cada pesadelo sonhado em algodão doce e cada ruga marcada em origami. O amor me invadia pouco a pouco e me transformava em brasa doce, que pulsava ritmada com as folhas da amendoeira que caiam no quintal no arrastado dos dias. Esperava. E num dia, enquanto preparava torta de maçã com canela, choveu. Choveu muito. Choveu como nunca chovera antes, como nunca antes fora permitido chover. A chuva derreteu o ninho, matou as flores, infiltrou as paredes. Quando a chuva começou a chover de dentro pra fora, emudeci. Nublei.
Meu céu azul agora é nevoeiro. Meu filho agora é um rio de sangue.

5 comentários:

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

Herculano me deu o livro – Sangue Novo- e nele encontrei tua poesia e gostei muito

Ellen Joyce disse...

Muito, muito bonito, Vanny.

Carolina disse...

Eu demoro de vir aqui, mas sempre que venho, me surpreendo.

Fabrício de Queiroz disse...

Vanny, foi culpa da torta. ^^

Veio a frase e não resisti em escrever... enfim, acho que estamos sempre chovendo por dentro: chuva pronta a destruir nossas tantas cores.

Dalton Mesquita Filho disse...

não se zangue se eu te disser mais uma vez que sou seu fã... Parabéns por todo esse talento para a escrita, e obrigado por agraciar minha mente com suas palavras.

Grande abraço

Dalton