21 de nov. de 2011

[ se por um acaso

Tem algo em mim que sempre foi torto
Que eu trouxe comigo das tripas da minha mãe
Minha mãe que morreu Santa
E que justamente por ser Santa
Escondeu debaixo da saia a única parte podre de sí
A única parte vil e egoísta
Que nasceu comigo como um gêmeo siamês

E desde sempre não tive escolhas
Não tem isso de destino se eu já sei o meu final
Não tem isso de fé se já eu nasci herege
Torta sou
Torta serei
Torta morrerei

Mas
[se por um acaso
Um dia eu tivesse escolha
[se por um acaso
Me deixassem deixar de ser errada
Daria um jeito qualquer
De desamassar a minha alma
De limpar a sujeira da minha história
E tapar os buracos do meu coração

Aí sim
Aí sim eu criaria um cachorro

1 comentários:

subliterato disse...

E Dindón lhe disse:
- Menina besta, nas entranhas a loucura é diluída ... pare confundir e esquecer suas escolhas erradas...
Ela respondeu, mas só, à noite pra o seu travesseiro rosado:
- Se é errada é porque tenho que esconder que é escolha. Uma coisa ou outra...
Inventou a certeza que só podia criar umas delas: ou era a angústia ou era a possibilidade de continuar vivendo. Nessa noite sonhou que era criada por uma hiena triste.

pág. 239 "O laço que prendeu meu cabelos enforcou meus filhos", Álvina Tropero.