9 de ago. de 2009

Três Flores

Dália

Lábios vermelhos. Lábios vermelhos de amor, eu digo e reparo que em mim não resta mais nem uma gota de lucidez. No meu copo, apenas mais um ou dois goles de vodca pura. Lábios vermelhos, pois sim! Rubros, escarlates, luxuriosamente vermelhos, febrilmente vermelhos. Gargalho sozinha, garganta queimando da bebida quente, olhos ardentes de loucura e dor. Ando meio trôpega em direção a varanda, e antes de me jogar do décimo quinto andar, passo mais uma vez nos lábios o meu batom favorito. Vermelho. Vermelho como o meu sangue que tingiu a calçada numa calma manhã de abril.
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Rosa

- Eu nunca disse que amaria você, eu nunca lhe escondi os meus sentimentos. Não me cobre uma coisa que eu nunca prometi lhe dar. Se foi só sexo? Sim. Se eu gostei? Nem sempre, pra falar a verdade poucas vezes. Você não faz meu tipo. Você nem de longe faz meu tipo. Eu gosto de garotas bonitas.
E saiu batendo a porta na minha cara. E saiu estraçalhando o meu coração como sempre fazia. Agora de vez, agora pra sempre. Mas o pior é que eu não conseguia odiá-lo. Nem quando senti meu corpo sendo arremessado pela janela do velho carro que eu usei pra ir atrás dele, nem quando senti minha vida escorrer pelos meus membros ralados no asfalto quente numa não tão calma tarde de abril.
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Margarida

Me caso amanhã. Está tudo pronto, do buquê de flores aos bem-casados. Me casarei com o homem da minha vida, o único homem da minha vida. Passei minha infância ao lado dele, minha adolescência e não vejo a hora de passar o resto da vida dividindo um lar com ele, construir uma família com o homem que escolhi pra ser o meu marido. E pensando nele, pensando no nós, no nosso futuro, eu caminho pelas ruas quase desertas nessa quase madrugada fria. E pensando nele eu quase não vejo um homem correndo em minha direção com algo brilhante na mão. E pensando no sorriso dele me vendo entrar toda de branco no altar, eu caio na calçada, costas ardendo de um tiro que não era pra mim. E morro pensando na vida que não vou viver, e morro pensando nos sonhos que não vou sonhar, nos beijos que não darei, nos filhos que não terei. E o meu corpo inerte atrapalha o tráfego numa agitada noite de abril.
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14 comentários:

Ribeiro disse...

Já disse que sou seu fã?
Sou muito seu fã!

Naila de Souza disse...

"Porque é um linha, uma simplória linha, uma tênue linha que separa a vida da morte.
E por não percebermos essa fragilidade, é que perdemos tanto tempo planejando, magoando, insistindo em um erro...
O fulgaz, às vezes pode ser mais proveitoso do que um "pra sempre".
Mas vai saber se eu não estou em devaneio, enquanto o sangue escorre na calçada, depois de ser atingida por uma bala perdida."



Vanny, baby, foda!
Vc cresce a cada texto, honey!
Continue assim: caminhando, caminhando....
Cheirooo

Amanda Oliveira disse...

Que mês filho da puta esse aí, viu? Já disse que sou sua fã? [2] Beijo, irmã.

o caso deles disse...

Coitada da Margarida. Pra mim, a mais sofredora.
Gosto disso. Três histórias diferentes. Lembrou-me um filme que vi: "Anjo de vidro" :)
Um beijo, dona Vanny!

Ana Carolina Maia disse...

Gosto dessas histórias que se interligam. Preciso dizer que está de parabéns como sempre?

Um beijo ;)

Gabriela Lopes disse...

O trágico sempre me conquista.
Acho que tenho tara pela morte...
Foi o post que eu mais gostei =D

Larissa disse...

Caralho. Não tem outra palavra. Adorei!

MED MUCHSTTER disse...

Adorei, parabens, Post LINDO esse :)

Marcus disse...

Belo post!!!
Dá uma passadinha no meu novo blog e deixa seu comentário.
Sou de Letras(403)na UFBA tbm!!

Roberto B. disse...

muito, muito bom!

queria inclusive ter conhecido dália e rosa....

que cemitério está para deixar flores e uma carta que nunca irão ler?

Anônimo disse...

foda!

O Neto do Herculano disse...

E todas as outras flores do jardim. Saudações!

Mariana Reis disse...

ótimo!

coffee and cigarettes disse...

Dália é a minha favorita