9 de nov. de 2009

Dedo podre

Cibele conheceu Plínio na arquibancada de um circo. Entre uma pipoca e outra, Cibele reparou no rapaz espirituoso que sentava na cadeira vizinha. Plínio era simpático demais, sorridente demais, engraçado demais. Sempre com uma piada pronta, com uma brincadeira engatilhada, Plínio fazia todo mundo cair na risada. Não deu outra: Cibele se apaixonou instantaneamente pelo seu sorriso e suas piadas bem contadas. Saíram dois, três, quatro meses até Plínio dizer que enjoara da mesma piada, a única que Cibele sabia contar, e contar mal, diga-se de passagem.
Superado o fim do romance, Cibele resolveu passar o fim de semana na ilha com as colegas de trabalho. E foi na beira do mar, bezuntada de cenoura e bronze, que Cibele conheceu Alfredo. Alfredo era loiro, alto, forte, musculoso e tinha um rosto de dar inveja a qualquer mortal. Cibele se apaixonou instantaneamente pela sua pele bronzeada, seu bumbum durinho e seus olhinhos azuis como o mar. E era mesmo bonito, o danado. Saíram dois, três, quatro meses até que Alfredo a trocou por uma modelo russa. E era mesmo bonita, a danada.
Aí nessas horas, aonde fica a auto-estima da mulher? Indignada, cheia de sangue nos olhos e pêlos encravados, Cibele marcou um dia de beleza completo no salão. E foi lá que ela conheceu o Jayme. Jayme era o cara mais sensível e educado que ela já vira. Gentil, cedeu o lugar para ela, enquanto esperava pra fazer a sobrancelha - "Um pelinho aqui no meio, é que eu tenho monocelha" - disse lépido. A derretida Cibele se apaixonou instantaneamente pela sua delicadeza, seu romantismo e seu bom gosto para tonalizantes. Saíram dois, três, quatro meses até Cibele o pegar na cama com o cabeleireiro mais talentoso que ela conhecia - o único que fazia a escova durar 4 dias sem enrolar - duas perdas!
Cibele já não tinha o que fazer. Não comia direito, coitada, não dormia, chegou até a ficar de cama. Levaram-na as pressas pro hospital, e foi num leito da enfermaria, que Cibele conheceu Otávio. Cuidadoso, Otávio tratou da doença de Cibele, que não tinha nada além falta de sorte e dedo podre pra homens, o que médico nenhum curaria. E como já era de se esperar, Cibele se apaixonou instantaneamente pelo doutor. E saíram dois, três, quatro meses até Cibele descobrir que Otávio era casado. E que aquela marca esbranquiçada no dedo anular da mão esquerda, não era vitiligo, como ele afirmava ser.
Cibele não tinha mais lágrimas pra chorar, mais álcool pra beber, nem forças pra se revoltar. Aceitou tudo com resignação e na semana seguinte já tava de passagens compradas para Paris. E no avião, Cibele conheceu Tierri. E o matou com 23 facadas três semanas depois.
Sempre melhor prevenir.


P.s.: Texto antigo, não conseguia dar um desfecho interessante pra a história. Acabou ficando isso aí, ainda desinteressante.
P.p.s.: Afagos!

7 comentários:

Anônimo disse...

Noooooooossa, superespirituoso!
Muito legal (se bem que eu vou dizer isso até se vc escrever "batatinha quando nasce"...).
Retrato de muita mulher por aí.

P. Veras disse...

Putz ! Final bem tragico, o Tierri poderia ser diferente...

Amanda Oliveira disse...

Caralho, irmã! Já vi qual vai ser o final de meus relacionamentos... Sou uma Cibele.

HBMS disse...

OMG ! lol

Ana Carolina Maia disse...

adorei o final trágico, dei risada aqui! o título condiz muito com o texto também

beijos!

Anônimo disse...

Que sortuda ela com os homens, não?!
Texto foda.

M.M. disse...

Vim conhecer e gostei do seu blog...
Bom saber que a história do 'dedo podre' não acontece só com a gente, né?
Boa semana,
Beijos