12 de nov. de 2009

Quando você descer do céu

Ele me beijavava como uma borboleta pousa leve no aveludado de uma pétala de rosa, suave e doce como eu consigo imaginar, depois de tanto tanto tempo sem ele. Não lembro mais detalhes do seu rosto - faz tanto tempo - além dos seus olhos amendoados sempre muito negros, sua boca quase avermelhada, e a fileira perfeita de dentes absolutamente brancos. Parecia um anjo. Com o cabelo tão liso e tão escuro como a asa de uma graúna. Tem dias em que fecho os olhos e o rosto dele é um borrão cravado nas minhas retinas. Outros, eu quase posso vê-lo sorrindo tímido pra mim, rubor subindo pelas bochechas, olhar de quem não sabe o que dizer. Mas ele nunca dizia nada.
Faz muito tempo que ele foi embora, e nem sei mesmo o porquê, nem pra onde, nem como, na verdade talvez ele nem tenha ido embora. A ausência dele aqui presente, antes grande e tão quase insuportável, hoje uma mera imagem desbotada, apenas o gosto quase inexistente de um beijo doce, talvez inventado, talvez vivido, as coisas se confudem na incessável dança do tempo. Que ao mesmo tempo me cura e o mata. Mas anjos morrem? Eu ainda ouço o ruflar das asas dele como naquele dia que não sei direito qual, e que eu senti meu coração dar três saltos no peito e um gosto de ferro vir à boca, e sabia que nunca mais o veria, e sabia que ele talvez nunca tivesse existido. Mas enquanto houver vida e as noites forem claras e o azul escuro do céu for quase tão negro quanto a íris dos olhos dele, eu ainda procurarei a estrela mais amarela, mais brilhante, e saberei que meu anjo rufla as asas douradas em algum canto do meu coração.
Look at the stars, look how they shine for you and everything you do. Yeah, and they are all yellow.







Yellow - Coldplay.

1 comentários:

Naila de Souza disse...

O real e o imahinário podem se misturar enquanto coração está em êxtase.
Mas é impossível não assumir que é uma sensação doce com sabor de quero mais..
E sempre quero

Cheiro apertado