"É tudo gelo e pedra, bem meu coração."
A neve descia mansa e densa, cobrindo tudo de um branco tão claro que doía as vistas.
Ela olhava a rua da janela, trancada no seu quarto, no mundo só seu. Nunca tinha se permitido ir além, nunca tinha se deixado fluir.
Tinha a pena de nunca ter amado ninguém.
"Mas eu não ligo mesmo. Assim fico protegida de mim".
Enxugou as lágrimas com as costas da mão, a pele gelada tocando nas bochechas rosadas, um gosto de tristeza e sal escorrendo pro canto da boca. E não demorou muito pra romper no pranto amargo das moças mal-amadas.
E chorou, e gritou, e esperneou, e gemeu, e soluçou, e parou, e começou tudo novamente. Como se as lágrimas mornas fossem quebrar o coração empedrado, como se fosse derreter a crosta que mantinha preso todo o seu amor. Mas nada mudaria o destino daquela jovem.
Nem se ela quisesse, estava escrito. E quando se está escrito, nada mais pode ser feito.
Nem chorar.
Os flocos de neve eram cada vez mais escassos, e parecia mesmo que estava parando de nevar. Mas ela não notava.
Seu coração tinha trincado.
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