7 de mai. de 2009

Rainha do gelo

"É tudo gelo e pedra, bem meu coração."

A neve descia mansa e densa, cobrindo tudo de um branco tão claro que doía as vistas.

Ela olhava a rua da janela, trancada no seu quarto, no mundo só seu. Nunca tinha se permitido ir além, nunca tinha se deixado fluir.

Tinha a pena de nunca ter amado ninguém.

"Mas eu não ligo mesmo. Assim fico protegida de mim".

Enxugou as lágrimas com as costas da mão, a pele gelada tocando nas bochechas rosadas, um gosto de tristeza e sal escorrendo pro canto da boca. E não demorou muito pra romper no pranto amargo das moças mal-amadas.

E chorou, e gritou, e esperneou, e gemeu, e soluçou, e parou, e começou tudo novamente. Como se as lágrimas mornas fossem quebrar o coração empedrado, como se fosse derreter a crosta que mantinha preso todo o seu amor. Mas nada mudaria o destino daquela jovem.

Nem se ela quisesse, estava escrito. E quando se está escrito, nada mais pode ser feito.

Nem chorar.

Os flocos de neve eram cada vez mais escassos, e parecia mesmo que estava parando de nevar. Mas ela não notava.

Seu coração tinha trincado.


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