27 de mai. de 2009

Sempre chuva


Eu tô parada em frente à janela há quase meia hora, e não faço idéia de como vim parar aqui. Não que eu esteja bêbada, ou drogada, ou querendo me matar - eu acho que não. Eu só acabei parando aqui do nada, não sei porque, nem ligo porque. Desde pequena sempre gostei de observar à vida das pessoas, ficar paradinha olhando esses desconhecidos tocando suas vidinhas normais, numa mesmice sufocante. E agora, olhando lá pra baixo, esses pontos miúdos, vozes e buzinas, pernas e rodas, eu percebo que é isso que eu tenho feito com a minha vida até agora. Eu sou apenas uma espectadora do filme que protagonizo.
Nunca fui brilhante, nunca tive um futuro promissor, nunca nem mesmo fui notável. Uma filha mediana, uma aluna mediana, uma amante mediana. Nunca fiz nada digno de interesse, nada que despertasse nos olhos das pessoas um brilho de admiração, nada nada. Nasci medíocre e morrerei medíocre. O que é a minha maior frustração, porque preferia ser porra nenhuma a ser quase alguma coisa. Só gosto de extremos.
Minha vida não é lá essas coisas toda, mas também não é digna de pena. Tenho um emprego que paga as minhas contas no fim do mês, um gato siamês alérgico e com tendências suicídas e um pseudo-namorado que acha que trepa como ninguém. Qualquer pessoa normal ficaria satisfeita e continuaria vivendo feliz e contente. Mas pensando bem, nem sei porque estou pensando nisso agora. Vivi relativamente bem comigo mesma todo esse tempo, mesmo negando a minha anormalidade, mas quem é totalmente normal? Não é esse o problema. O problema é que eu me acostumei a não ser ninguém, não ser ninguém é fácil, prático e cômodo. E pensar em mudar agora, nessa altura do campeonato, me dá um baita de um medo. Eu que nunca tive medo de nada, que aprendi a lutar com os meus fantasmas na marra, a cuidar de mim sozinha, agora me vejo tremendo como uma criança assustada, perante a fatos óbvios, verdades que eu nunca quis enxergar. Sou ninguém. Um ninguém só, infeliz e só, mal-amado e só. E devia ter me importado com isso bem antes.
Não para de chover nessa cidade não? Sempre chuva! Mas tá parecendo que chove por mim agora, talvez seja uma chuva reparadora. Eu tô aqui, parada na janela com um copo de coca quente na mão, rosto no vidro e cabeça no que passo, no que passou, paro e penso no que vou fazer daqui pra frente, pra onde vou fugir e se vou parar de fingir viver uma vida que não é inteiramente minha. A gente sempre tem duas ou várias alternativas, eu só peço pra ter a chance de escolher a minha. Posso viver, posso sobreviver, e posso ser.
E poder nunca me pareceu tão assustador.

4 comentários:

Naila de Souza disse...

Até a mais deliciosa independência, mais tarde, dependerá de alguém, algo...

Sexta é meu aniversário...E nessa semana tenho me perguntado muito o que fiz na minha vida. Não, não é só a neura de 'mais uma ano". ma o que eu podia ter sugado, ter feito, ter renunciado, ter defendido com mais ardor...enfim tudo ultimamente vem martelando, me feito pensar o que é Naila hoje, o que é a vida de Naila hoje...

E cheguei uma conclusão de verdade crua demais: não, não sou a mesma...rancaram-me a vida dos meus olhos.
Um cheiro pra vc

Naila de Souza disse...

Honey, tem um "presentinho" pra vc lá..rs
Cheiro

Amanda Oliveira disse...

Que foto linda é essa, Vanny?

HBMS disse...

"Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz..."
Legião